sexta-feira, 26 de abril de 2013

NOIVADO DA MINHA PRIMA




Esta história se passou no âmbito familiar.
Todos nós temos um tio preferido. Aquele com o qual temos mais afinidade.
No meu caso, o tio que eu mais gostava era o tio João. Não significa que eu não gostasse dos outros, mas o tio João era especial. Além de tio, ele também era o meu padrinho de batismo. Irmão caçula do meu pai, desde que me conheço por gente, eles sempre foram sócios em um estabelecimento comercial. Estávamos muito próximos o tempo todo. Quando criança, era ele que, toda tarde, me ajudava a fazer a tarefa da escola. Foi ele que me ensinou a escrever o meu nome.  Alem de tudo isso, era um ótimo desenhista e um fantástico contador de histórias.  Adorava os desenhos que ele fazia, ilustrando as histórias que contava.
O meu tio teve cinco filhos e, somando aos três filhos do meu pai, éramos oito primos vivendo praticamente juntos durante o dia todo no bar de propriedade da família.  Lá passávamos o dia todo e íamos pra casa apenas na hora de dormir. Assim, crescemos quase como irmãos.
O tempo passou, todos já crescidos, começamos a namorar. Um dia, minha prima mais velha resolveu ficar noiva.
Meus tios resolveram comemorar o noivado, numa reunião íntima com a presença apenas dos parentes mais próximos, tanto do lado da noiva, quanto do noivo. A “festinha” foi programada para a casa desse meu tio.
Minha tia Maria, mulher do tio João, estava bastante preocupada em receber os convidados, pois o noivo pertencia a uma tradicional família de uma pequena cidade da região.  Parece-me que eles eram parentes de um governador de estado daquela época.  Tanto que, no dia do casamento, esse político passou na casa do meu tio para cumprimentar a todos, já que à noite, na hora da cerimônia, ele não poderia estar presente.
Posso estar exagerando, mas tenho quase certeza que o meu tio até mandou pintar a casa para receber convidados tão ilustres. 
No grande dia do noivado, chegamos à recepção por volta das oito da noite vestimenta caprichada, pois não podíamos fazer feio diante da família do noivo. Meu pai compareceu de terno e gravata, apesar de ser uma festinha íntima na casa do irmão. As mulheres usavam o melhor vestido.  Eu e o namorado da minha irmã nos trajamos socialmente, com paletó, etc. Hoje, reconheço que houve um pouco de exagero por parte de todos, mas, naquele momento, fizemos o que achávamos certo.
O pessoal do lado de lá, apesar de serem pessoas de posse, era gente como a gente.  Mas, depois das apresentações e cumprimentos entre as famílias, de uma forma natural houve uma separação dos grupos na festa. A família do noivo agrupada num canto da casa e a da noiva no outro. No caso da minha família, ficamos na copa, onde havia um móvel tipo cristaleira, um sofá, algumas cadeiras e uma mesa com uma bela toalha de renda branca, decorada com um bolo salgado ao centro.  Este bolo tinha uma cobertura de maionese, enfeitado com tomates vermelhos cortados em forma de cestinhos.
A festa rolava muito animada, com as famílias separadas.  Eles lá e nós cá.
Num certo momento, o tio João aparece na copa, com uma garrafa de champanhe, me fazendo provocações.  Foi quando ele me disse:
- Você está muito desanimado!  Vamos agitar, Valdo! Era assim que ele me chamava.
Eu continuei sentado no sofá, bem quietinho.
Em seguida, ele colocou a garrafa em minhas mãos e pediu para eu abri-la.
          Então, eu disse:
- Tio, abra o senhor, que tem mais prática. 
Que nada!  Ele queria me deixar mais a vontade, pois percebeu que eu estava mesmo meio sem ambiente na festa.  Estava meio murcho, sem graça.
Como eu não tinha escolha, tirei o papel laminado que envolve a boca da garrafa de espumante, e em seguida comecei a torcer o arame que prende a rolha.  De repente, BUUUUUMMMMMM.  Uma forte explosão e o ambiente ficou escuro.  Estávamos sem luz.
Foi quando senti a espuma da champanhe gelada escorrendo sobre as minhas mãos.  Precisei afastar a garrafa rapidamente, para não molhar a minha roupa, enquanto o liquido derramava no chão da copa.
Estava atônito.  Ainda não tinha percebido o que tinha acontecido.  A pressão no interior da garrafa era tão grande, que a rolha explodiu antes mesmo de eu conseguir tirar totalmente o arame de proteção.
E, com uma pontaria digna de Guilherme Tell, a rolha foi direta em direção à lâmpada fluorescente instalada no teto do recinto que explodiu despejando os seus “cacos” sobre aquele delicioso bolo salgado que seria servido mais tarde.
Tia Maria, coitada, quase teve um chilique.  Como uma coisa dessas poderia ter acontecido justamente naquele dia diante de convidados tão ilustres?
Pois é.  Aconteceu!  E tinha que ser comigo!
Em seguida, foi providenciada uma nova lâmpada para iluminar o ambiente, momento que pude ver o estrago que eu fiz.
Lembro bem da movimentação de umas três senhoras, raspando a cobertura do bolo, removendo os cacos da lâmpada que haviam caído em cima.  Lembro-me também que,  mesmo assim, o que sobrou do bolo foi servido normalmente...  E estava bem gostoso!

OS DOIS IRMÃOS




Durante oito longos anos, trabalhei numa empresa fotográfica no interior do estado de São Paulo, que era dirigida por dois irmãos orientais, descendentes de japoneses.
Essa empresa atuou no mercado durante décadas e chegou a ocupar uma posição de destaque no ramo da fotografia. Começou como uma simples loja de foto, depois expandiu, comercializando fotos infantis a domicilio. Em seguida, se especializou em coberturas de bailes de debutantes e formaturas, onde conseguiu ser a maior do ramo. Nos últimos anos da sua existência, atuou no varejo fotográfico chegando a possuir uma rede de mais de 50 lojas. Depois, a empresa foi vendida, os irmãos se separaram e passaram atuar em outros ramos de atividade.  A minha história nessa empresa, começou na fase final, ou seja, quando ela passou a atuar no varejo fotográfico.  Fui gerente de filiais, atuando em várias cidades diferentes.
Não vou revelar aqui o nome da empresa, nem dos proprietários, porque não vivi as histórias que vou contar, apenas estou repassando porque as achei muito curiosas e engraçadas.  Elas aconteceram num período que eu ainda não estava na empresa, em departamentos diferentes daquele que atuei.
Então, vamos lá.
Os irmãos eram pessoas bem diferentes.  Um baixinho, bem moderno, com hábitos ocidentais. Só que tinha uma certa dificuldade de se expressar em português, pois fora criado por família japonesa bem tradicional.  Pelo jeitão dele, era mais brasileiro do que japonês.
O outro irmão era bem diferente, bem conservador.  Alto, magro, com os cabelos com fios longos e lisos, assentados com algum creme para não caírem na testa.
O pessoal mais antigo de firma costumava contar passagens do relacionamento dos dois.  Dos desentendimentos entre eles, das brigas, que eram cômicas aos olhos dos outros.  As discussões eram impagáveis. Inclusive percebi que o pessoal gostava de imitá-los enquanto contavam suas histórias.
A empresa ser enorme, possuía uma frota de mais de 200 veículos, entre carros, ônibus, micro-ônibus, furgões, caminhões e até dois aviões,
Mesmo com toda essa grandiosidade, nos finais de ano, quando a quantidade de formaturas ou bailes de debutantes era grande, os dois irmãos e sócios  empunhavam os equipamentos fotográficos e acompanhavam as equipes, ajudando a fotografar e  a pilotar as viaturas.  Eles encaravam qualquer trabalho que aparecesse, se igualando a qualquer funcionário da empresa.  Por isso, eram muito queridos.
Das histórias que me contaram dos dois irmãos, vou pinçar três, e juntá-las como se tivessem acontecido numa sequência.  Mas, na verdade, elas aconteceram em épocas e locais separados.  Os dois irmãos prepararam uma equipe de fotógrafos, para cobrir um baile de debutantes em outra cidade.  Naquele momento, como não havia nenhum veículo grande disponível, eles resolveram dividir a equipe em dois carros: um Ford Galaxie e uma Chevrolet Caravan.
E caíram na estrada. O irmão mais velho na frente, e o mais novo no carro de trás.
Depois de algumas horas de viagem, já depois do almoço, o carro da frente sai pelo acostamento, invade uma área plantada às margens da rodovia e levanta aquele poeirão...
O irmão que seguia no carro de trás, freou bruscamente, estacionou o carro e correu até o veiculo que havia saído da estrada.
Preocupado com os ocupantes do veículo, percebeu que todos estavam bem, e o carro não estava avariado. Foi só um grande susto. Todo nervoso, perguntou para o irmão, o que havia acontecido.  A resposta foi hilária:  EU ME DISTRAÍ COM O  MERANCIAL (melancial:  plantação de melancias). Japonês, às vezes, troca L por R.
Passado o susto, seguiram viagem.
Chegando ao destino, seguiram para um hotel, descansaram um pouco, tomaram um banho e se vestiram para o trabalho.  Por volta das 21hs, dirigiram-se ao clube local, onde seria realizado o Baile das Debutantes.
Todos elegantemente vestidos de smoking preto, fizeram a checagem de praxe nos equipamentos e se posicionaram em locais estratégicos do clube, para  fotografar a chegada das debutantes com as respectivas famílias.
O pessoal começou a aparecer, e de longe dava para ver os flashes disparando freneticamente.  Era a equipe toda na maior “pauleira” fotografando as meninas, familiares e convidados.
Chegado o momento da apresentação das debutantes.  O mestre de cerimônias anunciava o nome, e a menina-moça, toda garbosa, desfilava pelo salão do clube, apinhado de gente.  Os fotógrafos, cada um na sua posição, registravam as melhores poses das moçoilas sorridentes.
E os irmãos fotografando também, na maior empolgação, como se fossem debutantes na profissão.
Num dado momento, o irmão mais alto, dos cabelos lisos, que também era o mais velho, levou um escorregão e caiu de bunda no chão. Todos levaram um susto, pois ele já não era nenhum jovem.  Já era um senhor bem maduro.
O interessante é que ele não se abalou.  De smoking, com o equipamento fotográfico no pescoço, ainda sentado no piso do salão, enfiou a mão no bolso traseiro da calça, tirou um pente, e deu aquela ajeitada no cabelo.  Só depois se levantou, e continuou fotografando com a maior tranquilidade, como se nada tivesse acontecido.  No salão, em todos os cantos, era possível notar as pessoas rindo da cena.
A festa continuou até altas horas da madrugada.
Quando o trabalho foi encerrado, o pessoal carregou o equipamento nos carros e foi tomar um lanche.  Ao invés de dormir na cidade, os dois irmãos resolveram pegar a estrada naquele mesmo instante. Deviam estar com saudade de casa.
Saindo na estrada, o irmão mais novo resolveu pisar um pouco mais no acelerador e deixou o irmão mais velho pra trás.
Algum tempo depois, já bem separados pela distância, perderam o contato um com o outro.
De madrugada, quase amanhecendo o dia, a viagem segue. O patrão mais velho dirigindo e os funcionários desmaiados dentro do carro, dormindo profundamente.
De repente, o carro freia bruscamente. Ele joga o veículo no acostamento, puxa o freio de mão, abre a porta da Caravan e sai correndo pela pista.
            Os meninos que dormiam ao lado e no banco de trás do carro, sem saber o que estava acontecendo, saíram do carro no maior desespero, um passando por cima do outro, se atropelando...  E correram atrás do patrão, sem saber o que realmente estava acontecendo.  Uns acharam até que o carro ia explodir...
- O que foi, patrão?  Perguntaram.
E ele, ainda correndo:
- Resolvi correr um pouco, para espantar o sono.
É mole?  Imaginaram a cena?  Os moleques queriam esganar o patrão.

JÁ REBOBINOU?



Início dos anos 90, no Cine Foto Star em São José do Rio Preto, aconteceu uma cena curiosa.
Nessa época, eu atuava como gerente dessa empresa e contava com um quadro de funcionários de 12 pessoas mais ou menos.
A nossa equipe contava com pessoal do laboratório fotográfico, da área administrativa e os atendentes de balcão.
Na equipe de atendentes, trabalhava Sofia (nome fictício).  Era uma morena magra, alta, esguia e bastante cabeluda.  Cabelos crespos, armados... Uma das características dela, que chamava mais atenção, era a sua forma de olhar.  Olhar fixo, penetrante.
Dentre os produtos e serviços que oferecíamos na época, o que girava um movimento maior, era revelação de filmes e ampliação de fotografias.  No início de semana, principalmente, era uma loucura o volume de serviço que tínhamos.
A maioria dos clientes não sabia operar seus equipamentos e preferia trazer as câmaras fotográficas até a loja, para que nós tirássemos os filmes para revelar.  Eles não sentiam segurança em realizar esta tarefa e sempre tinham uma história para contar de fotos importantes que foram perdidas, devido a um erro na hora de tirar o filme da máquina.
A maioria dos acidentes acontecia, porque o fotógrafo amador esquecia de rebobinar o filme antes de abrir a tampa da câmara. Rebobinar era guardar o filme dentro da própria embalagem original.  As tampas eram abertas com o filme exposto à luz e todas as fotografias eram perdidas, veladas (queimadas).
Seguindo essa rotina, numa bela segunda-feira de bastante movimento, adentra a loja, um cliente, aparentando idade entre 50 e 60 anos, com sua câmara na mão.
Esse cliente foi atendido pela Sofia, aquela do olhar penetrante.  Depois dos cumprimentos de praxe, ele solicitou para que ela tirasse o filme da máquina e encaminhasse para revelação.
De pronto, ela pegou a câmara e, olhando fixamente nos olhos do cliente, perguntou: 
- O senhor já rebobinou?
Ele leva um susto, recua, retoma a respiração e retruca:
- O que é isso menina!  Me respeite!  Você está pensando que eu sou o quê?   
Pronto! A confusão já estava armada.  Com a loja lotada de clientes, aquilo virou um circo.
Sofia, não entendendo a reação do cliente, tenta explicar a pergunta, mas ele, profundamente ofendido, não conseguia ouvir o que ela queria dizer.
Foi necessário a presença de outra vendedora, com olhar menos insinuante, para desfazer o mal entendido, apaziguar os ânimos e encaminhar o filme do cliente para a revelação.
O que será que ele entendeu por “O SENHOR JÁ REBOBINOU?”
Êta mente suja!!!!

OS EMBALOS DE SÁBADO A NOITE



No ano de 1978, trabalhava por conta própria.  Fotografava crianças de casa em casa, fazendo álbuns e posters.  Nesta ocasião, morava em Lins e trabalhava em Santos, cidade do litoral paulista.
Devido à distância, trabalhava duas semanas seguidas e só retornava a casa a cada 15 dias.  Assim, passava um final de semana em casa e outro fora.
Num destes finais de semana que passei em Santos, resolvi assistir o filme que era a sensação do momento: “Os embalos de sábado à noite”, com John Travolta.  Vivíamos a época das discotecas.
Dos cinemas que exibiam o filme na época, escolhi o Cine Roxy, localizado na Avenida Ana Costa.  Principalmente, pela facilidade de estacionamento.
Acontece que quando cheguei ao cinema, o filme já havia começado e já estava quase na metade da exibição, segundo informação do porteiro. Entrei na fila que já se formava e comprei o meu ingresso.
Guardei o ingresso na carteira e me dirigi a uma lanchonete localizada nas imediações.
Como ia demorar pelo menos uma hora para iniciar a próxima sessão, resolvi tomar um lanche, pois estava com fome.
Depois do lanche, matei o resto do tempo admirando os produtos de uma loja de artigos fotográficos, ali ao lado do cinema. Faltando poucos minutos para o início da minha sessão, me encaminhei para o cinema.
Chegando ao Cine Roxy, me dirigi à porta de entrada da sala de projeção.  Tirei o Ticket da carteira e entreguei ao porteiro do cinema. Ele me olhou com espanto e ficou me encarando.  Sem entender o porquê daquela encarada, fui entrando, mas intrigado com a reação do porteiro.
Escolhi um bom lugar e curti o filme embalado pela trilha sonora dos Bee Gees.
O filme terminou perto da meia noite. Fui direto pra cama, pois tinha uma semana inteira de trabalho me aguardando.
Depois de trabalhar duro na segunda-feira, cheguei ao hotel de tarde, tomei banho e fui jantar.
Depois, já no meu quarto, resolvi dar uma organizada na minha carteira.  Até hoje, tenho o hábito de juntar papeis, cartões de visitas, notas fiscais, e outras coisas sem necessidade. Assim, de tempos em tempos, resolvo separar o que realmente interessa e o que sobra vai direto pro lixo.
Enquanto fazia a faxina na minha carteira, olhando papel por papel, uma coisa me chamou a atenção. Na hora, não acreditei no que estava vendo.
No meio daquela papelada toda, encontrei o ticket do Cine Roxy.  Verifiquei a data... era do dia anterior.  Caramba!  Se o ticket estava na minha mão, o que foi então que eu entreguei para o porteiro na hora de adentrar ao cinema?
Botei a cabeça para funcionar e acabei chegando a uma conclusão. Entreguei para o porteiro do cinema, o ticket do pedágio da Rodovia dos Imigrantes que estava guardado no meio daquela papelada toda. Os tickets eram parecidos, tinham praticamente o mesmo tamanho.
Aí, entendi a “encarada” do porteiro.  Ele percebeu que era o ticket errado,  mas não me disse nada. Apenas ficou me olhando, esperando que eu me “tocasse” e entregasse o comprovante correto. Estranha essa atitude dele!
Tive vontade de voltar ao cinema para me desculpar, mas acabei deixando pra lá.
Se querem saber, destruí o ticket e não o utilizei novamente.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

DIA DE SUBSTITUTO



A Basílica Menor de Nossa Senhora Aparecida de São José do Rio Preto é uma igreja fantástica. As paredes externas sem pintura, estilo bem rústico, com a parte interna toda pintada e desenhada até o teto. Vitrais, lustres, tudo maravilhoso.  Só conhecendo pessoalmente para avaliar a beleza desse templo religioso.
Foi ali que quase apanhei durante a realização de um casamento.
A noite estava bem fria.
Como de costume, cheguei bem cedo para o compromisso no local. Fui contratado para fotografar um casamento no horário das vinte horas e, às dezenove horas, já estava na capelinha ao lado do altar, fazendo os últimos testes e checagem do equipamento.  Já estava escuro, pois no inverno a noite chega mais rápido.
Nessa noite, eu estava acompanhado de minha colega de trabalho Vanda, que iria me auxiliar no trabalho de iluminação das fotos.
Ainda na capelinha da Basílica, notamos a presença de padrinhos, padre e noivo no altar.  Vimos também que a música já estava sendo executada e uma noiva muito bonita adentrava o templo pelo corredor central.
Percebemos também, que não havia ninguém fotografando nem filmando o evento. Não havia sequer um parente com uma câmara fotográfica, tão comum nos dias de hoje.
Como não tínhamos nada a ver com aquela cerimônia, nos encaminhamos para a porta principal da igreja, onde iríamos aguardar a “nossa” noiva.
De vez em quando, Vanda dava uma olhadinha pra dentro da igreja e lamentava:
-Casamento tão bonito, sem fotógrafo! O que será que aconteceu? 
Pelos trajes dos familiares, dava para notar que se tratava de pessoas com um poder aquisitivo bem razoável. Muito estranho não haver um único fotógrafo ali.  Mas, isso não era problema nosso.
O tempo passava e o casamento já estava mais ou menos na metade, no final do sermão do sacerdote.  De repente, uma senhora muito elegante, de meia idade saiu da igreja e nos abordou.  Pediu pelo amor de Deus que nós a ajudássemos.  Disse que o fotógrafo contratado pela família não apareceu e que o casamento da sobrinha não poderia passar em branco, sem fotos.  Pediu que fôssemos até o altar e fizéssemos algumas fotos sòmente para registrar o acontecimento.
Olhei para a Vanda, meio na dúvida e ela me incentivou. 
-Vamos lá, disse ela.
Ligamos o equipamento e fomos para o altar com os passos bem acelerados, pois o padre já benzia as alianças.
Quando pisei no altar, os noivos já trocavam alianças, mas deu tempo de fotografar sem problemas.
Depois de garantir as fotos das alianças, me dirigi àquela senhora de vermelho que nos chamou.  Ela estava ali, junto aos padrinhos.
Então, perguntei a ela o que ela queria que eu fotografasse, já que a sequência completa para fazer um álbum não seria possível.  O casamento já se encaminhava para o final.
Antes que ela me respondesse, os noivos se beijaram.  Foi quando o primeiro casal de padrinhos começou a me xingar:
-Além de chegar atrasado, você fica perdendo lances do casamento!
Virei pra eles e tentei explicar que eu não era o fotógrafo do casamento.
Do outro lado do altar, a minha auxiliar também ouvia os mais variados tipos de insultos.
Dei um sinal pra ela e, a partir daquele instante, comecei a fotografar tudo como se fosse uma reportagem normal.
Mesmo assim, os insultos prosseguiram.  Até a porta da igreja, quando parei de fotografar.
Então, aquela “madrinha” vestida de vermelho que nos “laçou” ali na porta da igreja, solicitou que acompanhássemos a noiva até a residência, para fotografarmos os presentes, o corte do bolo, os familiares, etc. Desculpei-me, dizendo que não seria possível, visto que a noiva do casamento que eu ia fotografar acabara de chegar.
Ela escreveu o endereço num papel e colocou no bolso do meu paletó.  Disse que iria nos esperar, independente de horário.  Respondi que ia fazer o possível para estar lá.
Bem, a “nossa” noiva chegou, começamos a fotografar e tudo correu bem.  Da igreja, fomos ao salão de festas, onde aconteceu a recepção e terminamos o nosso trabalho quando já passava de meia noite.
Despedimos dos nossos contratantes e seguimos para o endereço do casamento que fotografamos pela metade.
Chegando lá, pudemos nos certificar que a família realmente estava nos esperando.  O bolo ainda não havia sido cortado, a noiva ainda estava vestida, nos aguardando para fazer as fotos com os familiares, presentes, etc.
Arrumaram uma mesa pra gente e nos intimaram a jantar com eles.  Tudo maravilhoso e perfeito.  Porém, tinha uma coisa que me incomodava bastante: os insultos dos padrinhos no altar da igreja.  Fomos chamados de moleques, irresponsáveis, e outras barbaridades.  Com calma, expliquei tudo a eles e a madrinha de vermelho praticamente obrigou a todos os padrinhos a se desculparem perante nós
Tudo bem.  De alguma forma, as ofensas foram reparadas.
No final, mesmo não tendo registrado a primeira metade do casamento na igreja, consegui fazer um álbum bem bonito e consegui um excelente resultado financeiro no evento.



sexta-feira, 19 de abril de 2013

ÁGUA BENTA





            Numa cerimônia de casamento católico,  um dos momentos principais é a benção e a troca de alianças.  Destaco particularmente a religião católica, pois existem algumas religiões que não adotam a troca de alianças como parte da cerimônia.  Para quem fotografa casamento, é uma cena linda, que rende belas fotografias.
Sabendo disso, veja o que aconteceu comigo em Uberlândia, na Igreja Matriz Santa Terezinha.
O casamento acontecia no final da tarde de um sábado.  Igreja cheia, gente bonita, bem vestida.  A noiva, então!... nem se fala!  Maravilhosa, irradiando felicidade.
As portas principais da igreja se abrem, a música começa a tocar e lá vem a noiva com um sorriso de orelha a orelha.
O noivo esfrega as mãos, de tão nervoso que está.
Enfim, o grande momento!  O pai entrega a noiva ao noivo, fazendo-lhe muitas recomendações, para cuidar bem da sua filha, etc....
Os noivos se posicionam no altar e lá vem o padre.
Bom, o sacerdote é um sujeito miúdo, magro, usando barba e aparentando uns trinta e poucos anos.
De início, ele faz uma saudação aos noivos e convidados.  De repente, olha na minha direção e me chama.
Ao pé do meu ouvido, ele diz o seguinte:
- Me faz um favor.  Vá atrás do altar e diga ao Sacristão, que esse som está uma m...
Fiquei espantado com o palavreado do padre, mas obedeci às suas ordens...
Chegando atrás do altar, observei um sujeito sentado numa cadeira, operando um aparelho de som colocado sobre uma mesa. Era o sacristão. Então disse a ele que o padre não estava gostando do som e que alguma providência deveria ser tomada.
Foi quando ele me respondeu:
- Fique tranquilo.  Já sei o que fazer.
Voltei para a minha posição no altar.  O padre, percebendo a minha presença, de volta, testou novamente o microfone, aprovando as providências do Sacristão.
- Agora, sim, som está perfeito!... disse ele.
E começou a cerimônia.
Dava para perceber que o padre estava completamente embriagado. Pela maneira que falava, pelos gestos e pelo cheiro de bebida alcoólica que vinha da sua direção.
E chegou o grande momento da bênção das alianças.
Os noivos, ajoelhados diante do padre e, atrás dele, uma enorme mesa com uma toalha branca, onde estava o baldinho de prata contendo a Água Benta.
O sacerdote, com dificuldade de locomoção, chamou-me de novo.
Pediu que eu pegasse o baldinho de Água Benta para ele. Atendi prontamente.  Peguei o baldinho, que estava sobre a mesa e entreguei nas mãos do padre.  Acontece que ele não pegou o baldinho e, sim o bastão que estava dentro dele. 
Com o bastão nas mãos, abençoou as alianças, os noivos, os padrinhos e até o fotógrafo...
Imagine a cena.  Enquanto eu deveria estar fotografando a Benção das Alianças, estava segurando o baldinho, como se fosse um coroinha, um auxiliar do padre.
Conclusão: perdi o lance!
Não fotografei a cena!
Naquele mesmo dia, já tarde da noite, um amigo cruzou com o padre no banheiro de uma choperia da cidade,  passando muito mal, de tão bêbado que estava.

O TEMPO FECHOU






Eu sempre me considerei pé frio, meio azarado.  Talvez, por ficar pensando nisso, fico atraindo coisas ruins e passando por situações desagradáveis.
A história que vou contar aconteceu em 1985.  Depois que você terminar de ler, me diga.  Eu sou pé frio ou não sou?
No ano citado, eu trabalhava na filial de São José do Rio Preto, da loja Jet Color, com sede em Tupã-SP.
Na ocasião, por motivo de venda o prédio, tivemos que mudar a loja da rua Gal. Glicério para a rua Bernardino de Campos.  Ambas, no calçadão central da cidade.
Essa mudança de endereço fez um bem danado para a filial.  A empresa já estava atuando na cidade há quase dois anos e ainda não havia conseguido deslanchar na praça.  A reinauguração foi muito bem pensada e executada, fazendo com que conseguíssemos em uma semana, o faturamento de um mês normal.  A partir daí, não deixamos a peteca cair e conseguimos fazer com que essa filial fosse a primeira colocada entre 49 lojas, durante 12 meses consecutivos...
Mas - sempre tem um “mas”- a nossa estrutura de funcionários não estava preparada para o movimento alcançado.  Todos nós esperávamos uma melhora no movimento, mas não tanto.  Sendo assim, alguns trabalhos internos, ficaram acumulados por falta de tempo e de mão de obra para executá-los. Os fundos da loja estavam um terror.  Uma montanha de caixas empilhadas, restos da reforma do prédio.  Afinal, havia a necessidade urgente de uma faxina geral naquela parte das nossas instalações.  O setor do atendimento estava impecável.  Tudo limpinho e arrumadinho.
Numa das nossas reuniões de trabalho, combinamos com a equipe toda que, em determinado dia, todos deveriam trazer chinelos, bermudas e camisetas, pois iríamos fazer um mutirão de limpeza nos fundos da loja.
Chegando o tal dia, todos vieram preparados para a faxina que ocorreria depois do expediente.
Perto das dezoito horas, o pessoal começou a abaixar as portas da loja, enquanto outros se dirigiam aos banheiros, para colocar uma roupa apropriada.
Nesse mesmo momento, lá fora o tempo mudava drasticamente.  De um dia super quente, a temperatura caiu, o céu foi ficando escuro e ameaçava o maior temporal.
E o pessoal na maior empolgação e pressa, para terminar o trabalho de limpeza o quanto antes.
Já estava bem escuro lá fora, o temporal cada vez mais ameaçador quando, de repente, acabou a energia elétrica. Esperamos uns dez ou quinze minutos e nada da energia voltar.
Resolvemos então, suspender o trabalho e deixar a faxina para outro dia.  Imagine a dificuldade que foi, todo mundo conseguir localizar a roupa para trocar, na completa escuridão, valendo-se apenas da luz de alguns isqueiros.
Com muita dificuldade, conseguiram se trocar e correr antes que o temporal desabasse.
Fiquei por último. Com os dedos queimados por causa do isqueiro, consegui abrir as portas do fundo, trancar e sair...  Corri até o carro e consegui chegar em casa antes que a chuva me alcançasse.
Aliás, devo dizer que aquela chuva foi um verdadeiro “fiasco”.  Um barulho danado, muito vento, interrupção de energia elétrica e não caiu uma única gota d’água.
Depois de toda essa confusão e do trabalho frustrado,  a energia elétrica voltou por volta das nove e meia da noite.
Nesse mesmo dia e horário, o presidente da nossa empresa, Sr. Eizi Hirano voltava de São Paulo para Tupã no avião da empresa, acompanhados da esposa e dois diretores.
Normalmente, eles aterrissavam em Marília, mas não havia teto.  Consultaram Araçatuba, Bauru, tudo fechado.
- E Rio Preto?  ...
- Acabou de abrir.
- Então, vamos pra Rio Preto, disse o Sr. Eizi.
Chegando a Rio Preto, mais ou menos às dez horas, telefonaram para Tupã e solicitaram um Ford Galaxie da empresa, para buscá-los.  E, como o carro demoraria pelo menos umas duas horas para chegar, resolveram ir ao centro da cidade, jantar num restaurante chinês que eles adoravam..
No caminho do restaurante, ficava a loja que eu trabalhava e eles resolveram passar em frente.
Passando defronte a loja, a surpresa!  Todas as luzes estavam acesas.
Eles bateram às portas (a loja possuía seis portas), chamaram e ninguém respondeu. Não conseguiram entender nada.  Foram jantar.
Umas duas horas depois o carro chegava de Tupã e foi direto ao restaurante para buscá-los.  Antes de viajarem para Tupã, resolveram dar mais uma passadinha pela loja e constataram, mais uma vez, a loja todinha acesa.  Todas as luzes...
O Sr. Eizi viajou para Tupã, preocupadíssimo com o que vira, mas como ninguém sabia onde eu morava, não tinham como comunicar-se comigo
Na mesma madrugada, por volta das três horas, chegava a Rio Preto o furgão trazendo o malote da empresa.  Esse furgão vinha três vezes por semana, trazendo os serviços do laboratório fotográfico, mercadorias e correspondências da matriz para a filial.  O motorista possuía a chave dos fundos da loja, para descarregar o material. Quando chegou, também assustou-se com as luzes acesas.  Imaginou que houvesse ladrões dentro da loja.  Empunhou uma arma que carregava, abriu a porta e entrou chamando pelo nosso nome.
Constatou que não havia ninguém no interior do prédio.  Descarregou toda a encomenda da loja, foi até a caixa de energia e desligou todos os disjuntores.  Com a loja apagada, trancou tudo e foi para o hotel descansar.
No outro dia, no horário de praxe, cheguei para abrir a loja.  Tudo apagado, como achava que havia deixado no dia anterior. Abri a loja e começamos a operar normalmente, até que recebi um telefonema do meu gerente geral, “me passando aquele sabão”.
Ele queria saber, porque eu havia deixado as luzes acesas e eu teimava que não havia feito isso.
Até que o motorista do furgão chegou à loja, contando a mesma história e dizendo que havia sido ele que havia apagado as luzes, quando chegou de madrugada.
Então, a ficha caiu.
Apesar de eu gozar de algum prestígio junto ao meu patrão, a partir daí, em toda reunião de gerentes, ele citava o meu caso quando queria cobrar economia de despesas dos colegas.
-Não vão fazer como o Ari, que fecha a loja e deixa todas as luzes acesas....  Deste jeito a empresa não aguenta!...

E tive que ouvir isso muitas vezes...