sexta-feira, 26 de abril de 2013

NOIVADO DA MINHA PRIMA




Esta história se passou no âmbito familiar.
Todos nós temos um tio preferido. Aquele com o qual temos mais afinidade.
No meu caso, o tio que eu mais gostava era o tio João. Não significa que eu não gostasse dos outros, mas o tio João era especial. Além de tio, ele também era o meu padrinho de batismo. Irmão caçula do meu pai, desde que me conheço por gente, eles sempre foram sócios em um estabelecimento comercial. Estávamos muito próximos o tempo todo. Quando criança, era ele que, toda tarde, me ajudava a fazer a tarefa da escola. Foi ele que me ensinou a escrever o meu nome.  Alem de tudo isso, era um ótimo desenhista e um fantástico contador de histórias.  Adorava os desenhos que ele fazia, ilustrando as histórias que contava.
O meu tio teve cinco filhos e, somando aos três filhos do meu pai, éramos oito primos vivendo praticamente juntos durante o dia todo no bar de propriedade da família.  Lá passávamos o dia todo e íamos pra casa apenas na hora de dormir. Assim, crescemos quase como irmãos.
O tempo passou, todos já crescidos, começamos a namorar. Um dia, minha prima mais velha resolveu ficar noiva.
Meus tios resolveram comemorar o noivado, numa reunião íntima com a presença apenas dos parentes mais próximos, tanto do lado da noiva, quanto do noivo. A “festinha” foi programada para a casa desse meu tio.
Minha tia Maria, mulher do tio João, estava bastante preocupada em receber os convidados, pois o noivo pertencia a uma tradicional família de uma pequena cidade da região.  Parece-me que eles eram parentes de um governador de estado daquela época.  Tanto que, no dia do casamento, esse político passou na casa do meu tio para cumprimentar a todos, já que à noite, na hora da cerimônia, ele não poderia estar presente.
Posso estar exagerando, mas tenho quase certeza que o meu tio até mandou pintar a casa para receber convidados tão ilustres. 
No grande dia do noivado, chegamos à recepção por volta das oito da noite vestimenta caprichada, pois não podíamos fazer feio diante da família do noivo. Meu pai compareceu de terno e gravata, apesar de ser uma festinha íntima na casa do irmão. As mulheres usavam o melhor vestido.  Eu e o namorado da minha irmã nos trajamos socialmente, com paletó, etc. Hoje, reconheço que houve um pouco de exagero por parte de todos, mas, naquele momento, fizemos o que achávamos certo.
O pessoal do lado de lá, apesar de serem pessoas de posse, era gente como a gente.  Mas, depois das apresentações e cumprimentos entre as famílias, de uma forma natural houve uma separação dos grupos na festa. A família do noivo agrupada num canto da casa e a da noiva no outro. No caso da minha família, ficamos na copa, onde havia um móvel tipo cristaleira, um sofá, algumas cadeiras e uma mesa com uma bela toalha de renda branca, decorada com um bolo salgado ao centro.  Este bolo tinha uma cobertura de maionese, enfeitado com tomates vermelhos cortados em forma de cestinhos.
A festa rolava muito animada, com as famílias separadas.  Eles lá e nós cá.
Num certo momento, o tio João aparece na copa, com uma garrafa de champanhe, me fazendo provocações.  Foi quando ele me disse:
- Você está muito desanimado!  Vamos agitar, Valdo! Era assim que ele me chamava.
Eu continuei sentado no sofá, bem quietinho.
Em seguida, ele colocou a garrafa em minhas mãos e pediu para eu abri-la.
          Então, eu disse:
- Tio, abra o senhor, que tem mais prática. 
Que nada!  Ele queria me deixar mais a vontade, pois percebeu que eu estava mesmo meio sem ambiente na festa.  Estava meio murcho, sem graça.
Como eu não tinha escolha, tirei o papel laminado que envolve a boca da garrafa de espumante, e em seguida comecei a torcer o arame que prende a rolha.  De repente, BUUUUUMMMMMM.  Uma forte explosão e o ambiente ficou escuro.  Estávamos sem luz.
Foi quando senti a espuma da champanhe gelada escorrendo sobre as minhas mãos.  Precisei afastar a garrafa rapidamente, para não molhar a minha roupa, enquanto o liquido derramava no chão da copa.
Estava atônito.  Ainda não tinha percebido o que tinha acontecido.  A pressão no interior da garrafa era tão grande, que a rolha explodiu antes mesmo de eu conseguir tirar totalmente o arame de proteção.
E, com uma pontaria digna de Guilherme Tell, a rolha foi direta em direção à lâmpada fluorescente instalada no teto do recinto que explodiu despejando os seus “cacos” sobre aquele delicioso bolo salgado que seria servido mais tarde.
Tia Maria, coitada, quase teve um chilique.  Como uma coisa dessas poderia ter acontecido justamente naquele dia diante de convidados tão ilustres?
Pois é.  Aconteceu!  E tinha que ser comigo!
Em seguida, foi providenciada uma nova lâmpada para iluminar o ambiente, momento que pude ver o estrago que eu fiz.
Lembro bem da movimentação de umas três senhoras, raspando a cobertura do bolo, removendo os cacos da lâmpada que haviam caído em cima.  Lembro-me também que,  mesmo assim, o que sobrou do bolo foi servido normalmente...  E estava bem gostoso!

Um comentário:

  1. Ari,
    Seus Relatos têm grande valor literário, sem contar a boa dose de humor permeando cada desfecho. Até já indiquei para meus alunos, o seu blog, no momento em que estava trabalhando Gênero Relato de experiências vividas. E vários deles apreciaram e comentaram. Parabéns

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