sexta-feira, 19 de abril de 2013

ÁGUA BENTA





            Numa cerimônia de casamento católico,  um dos momentos principais é a benção e a troca de alianças.  Destaco particularmente a religião católica, pois existem algumas religiões que não adotam a troca de alianças como parte da cerimônia.  Para quem fotografa casamento, é uma cena linda, que rende belas fotografias.
Sabendo disso, veja o que aconteceu comigo em Uberlândia, na Igreja Matriz Santa Terezinha.
O casamento acontecia no final da tarde de um sábado.  Igreja cheia, gente bonita, bem vestida.  A noiva, então!... nem se fala!  Maravilhosa, irradiando felicidade.
As portas principais da igreja se abrem, a música começa a tocar e lá vem a noiva com um sorriso de orelha a orelha.
O noivo esfrega as mãos, de tão nervoso que está.
Enfim, o grande momento!  O pai entrega a noiva ao noivo, fazendo-lhe muitas recomendações, para cuidar bem da sua filha, etc....
Os noivos se posicionam no altar e lá vem o padre.
Bom, o sacerdote é um sujeito miúdo, magro, usando barba e aparentando uns trinta e poucos anos.
De início, ele faz uma saudação aos noivos e convidados.  De repente, olha na minha direção e me chama.
Ao pé do meu ouvido, ele diz o seguinte:
- Me faz um favor.  Vá atrás do altar e diga ao Sacristão, que esse som está uma m...
Fiquei espantado com o palavreado do padre, mas obedeci às suas ordens...
Chegando atrás do altar, observei um sujeito sentado numa cadeira, operando um aparelho de som colocado sobre uma mesa. Era o sacristão. Então disse a ele que o padre não estava gostando do som e que alguma providência deveria ser tomada.
Foi quando ele me respondeu:
- Fique tranquilo.  Já sei o que fazer.
Voltei para a minha posição no altar.  O padre, percebendo a minha presença, de volta, testou novamente o microfone, aprovando as providências do Sacristão.
- Agora, sim, som está perfeito!... disse ele.
E começou a cerimônia.
Dava para perceber que o padre estava completamente embriagado. Pela maneira que falava, pelos gestos e pelo cheiro de bebida alcoólica que vinha da sua direção.
E chegou o grande momento da bênção das alianças.
Os noivos, ajoelhados diante do padre e, atrás dele, uma enorme mesa com uma toalha branca, onde estava o baldinho de prata contendo a Água Benta.
O sacerdote, com dificuldade de locomoção, chamou-me de novo.
Pediu que eu pegasse o baldinho de Água Benta para ele. Atendi prontamente.  Peguei o baldinho, que estava sobre a mesa e entreguei nas mãos do padre.  Acontece que ele não pegou o baldinho e, sim o bastão que estava dentro dele. 
Com o bastão nas mãos, abençoou as alianças, os noivos, os padrinhos e até o fotógrafo...
Imagine a cena.  Enquanto eu deveria estar fotografando a Benção das Alianças, estava segurando o baldinho, como se fosse um coroinha, um auxiliar do padre.
Conclusão: perdi o lance!
Não fotografei a cena!
Naquele mesmo dia, já tarde da noite, um amigo cruzou com o padre no banheiro de uma choperia da cidade,  passando muito mal, de tão bêbado que estava.

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