segunda-feira, 22 de abril de 2013

DIA DE SUBSTITUTO



A Basílica Menor de Nossa Senhora Aparecida de São José do Rio Preto é uma igreja fantástica. As paredes externas sem pintura, estilo bem rústico, com a parte interna toda pintada e desenhada até o teto. Vitrais, lustres, tudo maravilhoso.  Só conhecendo pessoalmente para avaliar a beleza desse templo religioso.
Foi ali que quase apanhei durante a realização de um casamento.
A noite estava bem fria.
Como de costume, cheguei bem cedo para o compromisso no local. Fui contratado para fotografar um casamento no horário das vinte horas e, às dezenove horas, já estava na capelinha ao lado do altar, fazendo os últimos testes e checagem do equipamento.  Já estava escuro, pois no inverno a noite chega mais rápido.
Nessa noite, eu estava acompanhado de minha colega de trabalho Vanda, que iria me auxiliar no trabalho de iluminação das fotos.
Ainda na capelinha da Basílica, notamos a presença de padrinhos, padre e noivo no altar.  Vimos também que a música já estava sendo executada e uma noiva muito bonita adentrava o templo pelo corredor central.
Percebemos também, que não havia ninguém fotografando nem filmando o evento. Não havia sequer um parente com uma câmara fotográfica, tão comum nos dias de hoje.
Como não tínhamos nada a ver com aquela cerimônia, nos encaminhamos para a porta principal da igreja, onde iríamos aguardar a “nossa” noiva.
De vez em quando, Vanda dava uma olhadinha pra dentro da igreja e lamentava:
-Casamento tão bonito, sem fotógrafo! O que será que aconteceu? 
Pelos trajes dos familiares, dava para notar que se tratava de pessoas com um poder aquisitivo bem razoável. Muito estranho não haver um único fotógrafo ali.  Mas, isso não era problema nosso.
O tempo passava e o casamento já estava mais ou menos na metade, no final do sermão do sacerdote.  De repente, uma senhora muito elegante, de meia idade saiu da igreja e nos abordou.  Pediu pelo amor de Deus que nós a ajudássemos.  Disse que o fotógrafo contratado pela família não apareceu e que o casamento da sobrinha não poderia passar em branco, sem fotos.  Pediu que fôssemos até o altar e fizéssemos algumas fotos sòmente para registrar o acontecimento.
Olhei para a Vanda, meio na dúvida e ela me incentivou. 
-Vamos lá, disse ela.
Ligamos o equipamento e fomos para o altar com os passos bem acelerados, pois o padre já benzia as alianças.
Quando pisei no altar, os noivos já trocavam alianças, mas deu tempo de fotografar sem problemas.
Depois de garantir as fotos das alianças, me dirigi àquela senhora de vermelho que nos chamou.  Ela estava ali, junto aos padrinhos.
Então, perguntei a ela o que ela queria que eu fotografasse, já que a sequência completa para fazer um álbum não seria possível.  O casamento já se encaminhava para o final.
Antes que ela me respondesse, os noivos se beijaram.  Foi quando o primeiro casal de padrinhos começou a me xingar:
-Além de chegar atrasado, você fica perdendo lances do casamento!
Virei pra eles e tentei explicar que eu não era o fotógrafo do casamento.
Do outro lado do altar, a minha auxiliar também ouvia os mais variados tipos de insultos.
Dei um sinal pra ela e, a partir daquele instante, comecei a fotografar tudo como se fosse uma reportagem normal.
Mesmo assim, os insultos prosseguiram.  Até a porta da igreja, quando parei de fotografar.
Então, aquela “madrinha” vestida de vermelho que nos “laçou” ali na porta da igreja, solicitou que acompanhássemos a noiva até a residência, para fotografarmos os presentes, o corte do bolo, os familiares, etc. Desculpei-me, dizendo que não seria possível, visto que a noiva do casamento que eu ia fotografar acabara de chegar.
Ela escreveu o endereço num papel e colocou no bolso do meu paletó.  Disse que iria nos esperar, independente de horário.  Respondi que ia fazer o possível para estar lá.
Bem, a “nossa” noiva chegou, começamos a fotografar e tudo correu bem.  Da igreja, fomos ao salão de festas, onde aconteceu a recepção e terminamos o nosso trabalho quando já passava de meia noite.
Despedimos dos nossos contratantes e seguimos para o endereço do casamento que fotografamos pela metade.
Chegando lá, pudemos nos certificar que a família realmente estava nos esperando.  O bolo ainda não havia sido cortado, a noiva ainda estava vestida, nos aguardando para fazer as fotos com os familiares, presentes, etc.
Arrumaram uma mesa pra gente e nos intimaram a jantar com eles.  Tudo maravilhoso e perfeito.  Porém, tinha uma coisa que me incomodava bastante: os insultos dos padrinhos no altar da igreja.  Fomos chamados de moleques, irresponsáveis, e outras barbaridades.  Com calma, expliquei tudo a eles e a madrinha de vermelho praticamente obrigou a todos os padrinhos a se desculparem perante nós
Tudo bem.  De alguma forma, as ofensas foram reparadas.
No final, mesmo não tendo registrado a primeira metade do casamento na igreja, consegui fazer um álbum bem bonito e consegui um excelente resultado financeiro no evento.



Um comentário:

  1. Passei por aqui e li alguns de seus relatos, gostei muito da sua dose de humor.
    Parabens.

    Silvio Testa

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