A Basílica Menor de Nossa Senhora Aparecida de São
José do Rio Preto é uma igreja fantástica. As paredes externas sem pintura, estilo
bem rústico, com a parte interna toda pintada e desenhada até o teto. Vitrais,
lustres, tudo maravilhoso. Só conhecendo
pessoalmente para avaliar a beleza desse templo religioso.
Foi ali que quase apanhei durante a realização de um
casamento.
A noite estava bem fria.
Como de costume, cheguei bem cedo para o compromisso
no local. Fui contratado para fotografar um casamento no horário das vinte
horas e, às dezenove horas, já estava na capelinha ao lado do altar, fazendo os
últimos testes e checagem do equipamento.
Já estava escuro, pois no inverno a noite chega mais rápido.
Nessa noite, eu estava acompanhado de minha colega de
trabalho Vanda, que iria me auxiliar no trabalho de iluminação das fotos.
Ainda na capelinha da Basílica, notamos a presença de
padrinhos, padre e noivo no altar. Vimos
também que a música já estava sendo executada e uma noiva muito bonita
adentrava o templo pelo corredor central.
Percebemos também, que não havia ninguém fotografando
nem filmando o evento. Não havia sequer um parente com uma câmara fotográfica,
tão comum nos dias de hoje.
Como não tínhamos nada a ver com aquela cerimônia,
nos encaminhamos para a porta principal da igreja, onde iríamos aguardar a
“nossa” noiva.
De vez em quando, Vanda dava uma olhadinha pra dentro
da igreja e lamentava:
-Casamento tão bonito, sem fotógrafo! O que será que
aconteceu?
Pelos trajes dos familiares, dava para notar que se
tratava de pessoas com um poder aquisitivo bem razoável. Muito estranho não
haver um único fotógrafo ali. Mas, isso não
era problema nosso.
O tempo passava e o casamento já estava mais ou menos
na metade, no final do sermão do sacerdote.
De repente, uma senhora muito elegante, de meia idade saiu da igreja e
nos abordou. Pediu pelo amor de Deus que
nós a ajudássemos. Disse que o fotógrafo
contratado pela família não apareceu e que o casamento da sobrinha não poderia
passar em branco, sem fotos. Pediu que
fôssemos até o altar e fizéssemos algumas fotos sòmente para registrar o
acontecimento.
Olhei para a Vanda, meio na dúvida e ela me
incentivou.
-Vamos lá, disse ela.
Ligamos o equipamento e fomos para o altar com os passos
bem acelerados, pois o padre já benzia as alianças.
Quando pisei no altar, os noivos já trocavam
alianças, mas deu tempo de fotografar sem problemas.
Depois de garantir as fotos das alianças, me dirigi
àquela senhora de vermelho que nos chamou.
Ela estava ali, junto aos padrinhos.
Então, perguntei a ela o que ela queria que eu
fotografasse, já que a sequência completa para fazer um álbum não seria
possível. O casamento já se encaminhava
para o final.
Antes que ela me respondesse, os noivos se beijaram. Foi quando o primeiro casal de padrinhos
começou a me xingar:
-Além de chegar atrasado, você fica perdendo lances
do casamento!
Virei pra eles e tentei explicar que eu não era o
fotógrafo do casamento.
Do outro lado do altar, a minha auxiliar também ouvia
os mais variados tipos de insultos.
Dei um sinal pra ela e, a partir daquele instante,
comecei a fotografar tudo como se fosse uma reportagem normal.
Mesmo assim, os insultos prosseguiram. Até a porta da igreja, quando parei de
fotografar.
Então, aquela “madrinha” vestida de vermelho que nos
“laçou” ali na porta da igreja, solicitou que acompanhássemos a noiva até a
residência, para fotografarmos os presentes, o corte do bolo, os familiares,
etc. Desculpei-me, dizendo que não seria possível, visto que a noiva do
casamento que eu ia fotografar acabara de chegar.
Ela escreveu o endereço num papel e colocou no bolso
do meu paletó. Disse que iria nos
esperar, independente de horário.
Respondi que ia fazer o possível para estar lá.
Bem, a “nossa” noiva chegou, começamos a fotografar e
tudo correu bem. Da igreja, fomos ao
salão de festas, onde aconteceu a recepção e terminamos o nosso trabalho quando
já passava de meia noite.
Despedimos dos nossos contratantes e seguimos para o
endereço do casamento que fotografamos pela metade.
Chegando lá, pudemos nos certificar que a família
realmente estava nos esperando. O bolo
ainda não havia sido cortado, a noiva ainda estava vestida, nos aguardando para
fazer as fotos com os familiares, presentes, etc.
Arrumaram uma mesa pra gente e nos intimaram a jantar
com eles. Tudo maravilhoso e
perfeito. Porém, tinha uma coisa que me
incomodava bastante: os insultos dos padrinhos no altar da igreja. Fomos chamados de moleques, irresponsáveis, e
outras barbaridades. Com calma,
expliquei tudo a eles e a madrinha de vermelho praticamente obrigou a todos os
padrinhos a se desculparem perante nós.
Tudo bem. De
alguma forma, as ofensas foram reparadas.
No final, mesmo não tendo registrado a primeira
metade do casamento na igreja, consegui fazer um álbum bem bonito e consegui um
excelente resultado financeiro no evento.
Passei por aqui e li alguns de seus relatos, gostei muito da sua dose de humor.
ResponderExcluirParabens.
Silvio Testa