sexta-feira, 19 de abril de 2013

O TEMPO FECHOU






Eu sempre me considerei pé frio, meio azarado.  Talvez, por ficar pensando nisso, fico atraindo coisas ruins e passando por situações desagradáveis.
A história que vou contar aconteceu em 1985.  Depois que você terminar de ler, me diga.  Eu sou pé frio ou não sou?
No ano citado, eu trabalhava na filial de São José do Rio Preto, da loja Jet Color, com sede em Tupã-SP.
Na ocasião, por motivo de venda o prédio, tivemos que mudar a loja da rua Gal. Glicério para a rua Bernardino de Campos.  Ambas, no calçadão central da cidade.
Essa mudança de endereço fez um bem danado para a filial.  A empresa já estava atuando na cidade há quase dois anos e ainda não havia conseguido deslanchar na praça.  A reinauguração foi muito bem pensada e executada, fazendo com que conseguíssemos em uma semana, o faturamento de um mês normal.  A partir daí, não deixamos a peteca cair e conseguimos fazer com que essa filial fosse a primeira colocada entre 49 lojas, durante 12 meses consecutivos...
Mas - sempre tem um “mas”- a nossa estrutura de funcionários não estava preparada para o movimento alcançado.  Todos nós esperávamos uma melhora no movimento, mas não tanto.  Sendo assim, alguns trabalhos internos, ficaram acumulados por falta de tempo e de mão de obra para executá-los. Os fundos da loja estavam um terror.  Uma montanha de caixas empilhadas, restos da reforma do prédio.  Afinal, havia a necessidade urgente de uma faxina geral naquela parte das nossas instalações.  O setor do atendimento estava impecável.  Tudo limpinho e arrumadinho.
Numa das nossas reuniões de trabalho, combinamos com a equipe toda que, em determinado dia, todos deveriam trazer chinelos, bermudas e camisetas, pois iríamos fazer um mutirão de limpeza nos fundos da loja.
Chegando o tal dia, todos vieram preparados para a faxina que ocorreria depois do expediente.
Perto das dezoito horas, o pessoal começou a abaixar as portas da loja, enquanto outros se dirigiam aos banheiros, para colocar uma roupa apropriada.
Nesse mesmo momento, lá fora o tempo mudava drasticamente.  De um dia super quente, a temperatura caiu, o céu foi ficando escuro e ameaçava o maior temporal.
E o pessoal na maior empolgação e pressa, para terminar o trabalho de limpeza o quanto antes.
Já estava bem escuro lá fora, o temporal cada vez mais ameaçador quando, de repente, acabou a energia elétrica. Esperamos uns dez ou quinze minutos e nada da energia voltar.
Resolvemos então, suspender o trabalho e deixar a faxina para outro dia.  Imagine a dificuldade que foi, todo mundo conseguir localizar a roupa para trocar, na completa escuridão, valendo-se apenas da luz de alguns isqueiros.
Com muita dificuldade, conseguiram se trocar e correr antes que o temporal desabasse.
Fiquei por último. Com os dedos queimados por causa do isqueiro, consegui abrir as portas do fundo, trancar e sair...  Corri até o carro e consegui chegar em casa antes que a chuva me alcançasse.
Aliás, devo dizer que aquela chuva foi um verdadeiro “fiasco”.  Um barulho danado, muito vento, interrupção de energia elétrica e não caiu uma única gota d’água.
Depois de toda essa confusão e do trabalho frustrado,  a energia elétrica voltou por volta das nove e meia da noite.
Nesse mesmo dia e horário, o presidente da nossa empresa, Sr. Eizi Hirano voltava de São Paulo para Tupã no avião da empresa, acompanhados da esposa e dois diretores.
Normalmente, eles aterrissavam em Marília, mas não havia teto.  Consultaram Araçatuba, Bauru, tudo fechado.
- E Rio Preto?  ...
- Acabou de abrir.
- Então, vamos pra Rio Preto, disse o Sr. Eizi.
Chegando a Rio Preto, mais ou menos às dez horas, telefonaram para Tupã e solicitaram um Ford Galaxie da empresa, para buscá-los.  E, como o carro demoraria pelo menos umas duas horas para chegar, resolveram ir ao centro da cidade, jantar num restaurante chinês que eles adoravam..
No caminho do restaurante, ficava a loja que eu trabalhava e eles resolveram passar em frente.
Passando defronte a loja, a surpresa!  Todas as luzes estavam acesas.
Eles bateram às portas (a loja possuía seis portas), chamaram e ninguém respondeu. Não conseguiram entender nada.  Foram jantar.
Umas duas horas depois o carro chegava de Tupã e foi direto ao restaurante para buscá-los.  Antes de viajarem para Tupã, resolveram dar mais uma passadinha pela loja e constataram, mais uma vez, a loja todinha acesa.  Todas as luzes...
O Sr. Eizi viajou para Tupã, preocupadíssimo com o que vira, mas como ninguém sabia onde eu morava, não tinham como comunicar-se comigo
Na mesma madrugada, por volta das três horas, chegava a Rio Preto o furgão trazendo o malote da empresa.  Esse furgão vinha três vezes por semana, trazendo os serviços do laboratório fotográfico, mercadorias e correspondências da matriz para a filial.  O motorista possuía a chave dos fundos da loja, para descarregar o material. Quando chegou, também assustou-se com as luzes acesas.  Imaginou que houvesse ladrões dentro da loja.  Empunhou uma arma que carregava, abriu a porta e entrou chamando pelo nosso nome.
Constatou que não havia ninguém no interior do prédio.  Descarregou toda a encomenda da loja, foi até a caixa de energia e desligou todos os disjuntores.  Com a loja apagada, trancou tudo e foi para o hotel descansar.
No outro dia, no horário de praxe, cheguei para abrir a loja.  Tudo apagado, como achava que havia deixado no dia anterior. Abri a loja e começamos a operar normalmente, até que recebi um telefonema do meu gerente geral, “me passando aquele sabão”.
Ele queria saber, porque eu havia deixado as luzes acesas e eu teimava que não havia feito isso.
Até que o motorista do furgão chegou à loja, contando a mesma história e dizendo que havia sido ele que havia apagado as luzes, quando chegou de madrugada.
Então, a ficha caiu.
Apesar de eu gozar de algum prestígio junto ao meu patrão, a partir daí, em toda reunião de gerentes, ele citava o meu caso quando queria cobrar economia de despesas dos colegas.
-Não vão fazer como o Ari, que fecha a loja e deixa todas as luzes acesas....  Deste jeito a empresa não aguenta!...

E tive que ouvir isso muitas vezes...


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