sexta-feira, 26 de abril de 2013

OS DOIS IRMÃOS




Durante oito longos anos, trabalhei numa empresa fotográfica no interior do estado de São Paulo, que era dirigida por dois irmãos orientais, descendentes de japoneses.
Essa empresa atuou no mercado durante décadas e chegou a ocupar uma posição de destaque no ramo da fotografia. Começou como uma simples loja de foto, depois expandiu, comercializando fotos infantis a domicilio. Em seguida, se especializou em coberturas de bailes de debutantes e formaturas, onde conseguiu ser a maior do ramo. Nos últimos anos da sua existência, atuou no varejo fotográfico chegando a possuir uma rede de mais de 50 lojas. Depois, a empresa foi vendida, os irmãos se separaram e passaram atuar em outros ramos de atividade.  A minha história nessa empresa, começou na fase final, ou seja, quando ela passou a atuar no varejo fotográfico.  Fui gerente de filiais, atuando em várias cidades diferentes.
Não vou revelar aqui o nome da empresa, nem dos proprietários, porque não vivi as histórias que vou contar, apenas estou repassando porque as achei muito curiosas e engraçadas.  Elas aconteceram num período que eu ainda não estava na empresa, em departamentos diferentes daquele que atuei.
Então, vamos lá.
Os irmãos eram pessoas bem diferentes.  Um baixinho, bem moderno, com hábitos ocidentais. Só que tinha uma certa dificuldade de se expressar em português, pois fora criado por família japonesa bem tradicional.  Pelo jeitão dele, era mais brasileiro do que japonês.
O outro irmão era bem diferente, bem conservador.  Alto, magro, com os cabelos com fios longos e lisos, assentados com algum creme para não caírem na testa.
O pessoal mais antigo de firma costumava contar passagens do relacionamento dos dois.  Dos desentendimentos entre eles, das brigas, que eram cômicas aos olhos dos outros.  As discussões eram impagáveis. Inclusive percebi que o pessoal gostava de imitá-los enquanto contavam suas histórias.
A empresa ser enorme, possuía uma frota de mais de 200 veículos, entre carros, ônibus, micro-ônibus, furgões, caminhões e até dois aviões,
Mesmo com toda essa grandiosidade, nos finais de ano, quando a quantidade de formaturas ou bailes de debutantes era grande, os dois irmãos e sócios  empunhavam os equipamentos fotográficos e acompanhavam as equipes, ajudando a fotografar e  a pilotar as viaturas.  Eles encaravam qualquer trabalho que aparecesse, se igualando a qualquer funcionário da empresa.  Por isso, eram muito queridos.
Das histórias que me contaram dos dois irmãos, vou pinçar três, e juntá-las como se tivessem acontecido numa sequência.  Mas, na verdade, elas aconteceram em épocas e locais separados.  Os dois irmãos prepararam uma equipe de fotógrafos, para cobrir um baile de debutantes em outra cidade.  Naquele momento, como não havia nenhum veículo grande disponível, eles resolveram dividir a equipe em dois carros: um Ford Galaxie e uma Chevrolet Caravan.
E caíram na estrada. O irmão mais velho na frente, e o mais novo no carro de trás.
Depois de algumas horas de viagem, já depois do almoço, o carro da frente sai pelo acostamento, invade uma área plantada às margens da rodovia e levanta aquele poeirão...
O irmão que seguia no carro de trás, freou bruscamente, estacionou o carro e correu até o veiculo que havia saído da estrada.
Preocupado com os ocupantes do veículo, percebeu que todos estavam bem, e o carro não estava avariado. Foi só um grande susto. Todo nervoso, perguntou para o irmão, o que havia acontecido.  A resposta foi hilária:  EU ME DISTRAÍ COM O  MERANCIAL (melancial:  plantação de melancias). Japonês, às vezes, troca L por R.
Passado o susto, seguiram viagem.
Chegando ao destino, seguiram para um hotel, descansaram um pouco, tomaram um banho e se vestiram para o trabalho.  Por volta das 21hs, dirigiram-se ao clube local, onde seria realizado o Baile das Debutantes.
Todos elegantemente vestidos de smoking preto, fizeram a checagem de praxe nos equipamentos e se posicionaram em locais estratégicos do clube, para  fotografar a chegada das debutantes com as respectivas famílias.
O pessoal começou a aparecer, e de longe dava para ver os flashes disparando freneticamente.  Era a equipe toda na maior “pauleira” fotografando as meninas, familiares e convidados.
Chegado o momento da apresentação das debutantes.  O mestre de cerimônias anunciava o nome, e a menina-moça, toda garbosa, desfilava pelo salão do clube, apinhado de gente.  Os fotógrafos, cada um na sua posição, registravam as melhores poses das moçoilas sorridentes.
E os irmãos fotografando também, na maior empolgação, como se fossem debutantes na profissão.
Num dado momento, o irmão mais alto, dos cabelos lisos, que também era o mais velho, levou um escorregão e caiu de bunda no chão. Todos levaram um susto, pois ele já não era nenhum jovem.  Já era um senhor bem maduro.
O interessante é que ele não se abalou.  De smoking, com o equipamento fotográfico no pescoço, ainda sentado no piso do salão, enfiou a mão no bolso traseiro da calça, tirou um pente, e deu aquela ajeitada no cabelo.  Só depois se levantou, e continuou fotografando com a maior tranquilidade, como se nada tivesse acontecido.  No salão, em todos os cantos, era possível notar as pessoas rindo da cena.
A festa continuou até altas horas da madrugada.
Quando o trabalho foi encerrado, o pessoal carregou o equipamento nos carros e foi tomar um lanche.  Ao invés de dormir na cidade, os dois irmãos resolveram pegar a estrada naquele mesmo instante. Deviam estar com saudade de casa.
Saindo na estrada, o irmão mais novo resolveu pisar um pouco mais no acelerador e deixou o irmão mais velho pra trás.
Algum tempo depois, já bem separados pela distância, perderam o contato um com o outro.
De madrugada, quase amanhecendo o dia, a viagem segue. O patrão mais velho dirigindo e os funcionários desmaiados dentro do carro, dormindo profundamente.
De repente, o carro freia bruscamente. Ele joga o veículo no acostamento, puxa o freio de mão, abre a porta da Caravan e sai correndo pela pista.
            Os meninos que dormiam ao lado e no banco de trás do carro, sem saber o que estava acontecendo, saíram do carro no maior desespero, um passando por cima do outro, se atropelando...  E correram atrás do patrão, sem saber o que realmente estava acontecendo.  Uns acharam até que o carro ia explodir...
- O que foi, patrão?  Perguntaram.
E ele, ainda correndo:
- Resolvi correr um pouco, para espantar o sono.
É mole?  Imaginaram a cena?  Os moleques queriam esganar o patrão.

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