No ano de 1978, trabalhava por conta própria. Fotografava crianças de casa em casa, fazendo
álbuns e posters. Nesta ocasião, morava
em Lins e trabalhava em Santos, cidade do litoral paulista.
Devido à distância, trabalhava duas semanas seguidas
e só retornava a casa a cada 15 dias.
Assim, passava um final de semana em casa e outro fora.
Num destes finais de semana que passei em Santos,
resolvi assistir o filme que era a sensação do momento: “Os embalos de sábado à
noite”, com John Travolta. Vivíamos a
época das discotecas.
Dos cinemas que exibiam o filme na época, escolhi o
Cine Roxy, localizado na Avenida Ana Costa.
Principalmente, pela facilidade de estacionamento.
Acontece que quando cheguei ao cinema, o filme já
havia começado e já estava quase na metade da exibição, segundo informação do
porteiro. Entrei na fila que já se formava e comprei o meu ingresso.
Guardei o ingresso na carteira e me dirigi a uma
lanchonete localizada nas imediações.
Como ia demorar pelo menos uma hora para iniciar a
próxima sessão, resolvi tomar um lanche, pois estava com fome.
Depois do lanche, matei o resto do tempo admirando os
produtos de uma loja de artigos fotográficos, ali ao lado do cinema. Faltando
poucos minutos para o início da minha sessão, me encaminhei para o cinema.
Chegando ao Cine Roxy, me dirigi à porta de entrada
da sala de projeção. Tirei o Ticket da
carteira e entreguei ao porteiro do cinema. Ele me olhou com espanto e ficou me
encarando. Sem entender o porquê daquela
encarada, fui entrando, mas intrigado com a reação do porteiro.
Escolhi um bom lugar e curti o filme embalado pela
trilha sonora dos Bee Gees.
O
filme terminou perto da meia noite. Fui direto pra cama, pois tinha uma semana
inteira de trabalho me aguardando.
Depois de trabalhar duro na segunda-feira, cheguei ao
hotel de tarde, tomei banho e fui jantar.
Depois, já no meu quarto, resolvi dar uma organizada
na minha carteira. Até hoje, tenho o
hábito de juntar papeis, cartões de visitas, notas fiscais, e outras coisas sem
necessidade. Assim, de tempos em tempos, resolvo separar o que realmente
interessa e o que sobra vai direto pro lixo.
Enquanto fazia a faxina na minha carteira, olhando
papel por papel, uma coisa me chamou a atenção. Na hora, não acreditei no que
estava vendo.
No meio daquela papelada toda, encontrei o ticket do
Cine Roxy. Verifiquei a data... era do
dia anterior. Caramba! Se o ticket estava na minha mão, o que foi
então que eu entreguei para o porteiro na hora de adentrar ao cinema?
Botei a cabeça para funcionar e acabei chegando a uma
conclusão. Entreguei para o porteiro do cinema, o ticket do pedágio da Rodovia
dos Imigrantes que estava guardado no meio daquela papelada toda. Os tickets
eram parecidos, tinham praticamente o mesmo tamanho.
Aí, entendi a “encarada” do porteiro. Ele percebeu que era o ticket errado, mas não me disse nada. Apenas ficou me
olhando, esperando que eu me “tocasse” e entregasse o comprovante correto.
Estranha essa atitude dele!
Tive vontade de voltar ao cinema para me desculpar,
mas acabei deixando pra lá.
Se querem saber, destruí o ticket e não o utilizei
novamente.
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