sexta-feira, 19 de abril de 2013

BONDINHO DO PÃO DE AÇUCAR?




Como vergonha pouca é bobagem na profissão de repórter fotográfico, escute essa!
Para quem nunca trabalhou como fotógrafo de eventos sociais, principalmente no tempo da fotografia analógica (imagens registradas em negativos), cabe aqui uma explicação.
Normalmente, o equipamento básico do fotógrafo social era composto de uma câmara fotográfica que utilizava filme no formato 120, que permitia ampliações de grandes formatos, um bom flash eletrônico, abastecido com uma bateria recarregável e o cabo de sincronismo.  Esse cabo ligava o flash à câmara fotográfica. Possibilitava o disparo do flash, ao mesmo tempo em que a câmara abria o obturador para a captação de luz.  Em suma, o cabo de sincronismo fazia os dois equipamentos funcionarem ao mesmo tempo.  Flash e máquina.
Muito bem.  Aconteceu na Basílica Nossa Senhora Aparecida, em São José do Rio Preto, essa passagem da minha vida profissional.  Novamente, uma reportagem de casamento, onde tudo corria normalmente até o momento do acontecido.
Nessa igreja, no final da cerimônia, o padre parabenizava os noivos que, em seguida, se beijavam.  Na sequência, os noivos partiam para os cumprimentos dos padrinhos que estavam posicionados nas laterais do altar. De início, a noiva se dirigia para o lado onde estavam os pais e padrinhos do noivo, ao mesmo tempo em que o noivo fazia o inverso. Resumindo, os noivos começavam cumprimentando os pais e padrinhos do parceiro.
Eles iniciavam a sessão de abraços e beijos, pelos sogros, que estavam colocados na entrada do altar, seguindo em direção ao fundo.  Chegando bem em frente ao altar eles se encontravam, beijavam-se e iniciavam os cumprimentos dos seus respectivos padrinhos, do fundo para a entrada, terminando esses afagos com os respectivos pais.
Meio confuso de se explicar, mas acho que deu pra entender.
Na maioria das igrejas católicas, existe uma mesa bem grande no altar, normalmente de mármore.  Nessa mesa, quase sempre coberta por uma linda toalha branca, às vezes rendada, o padre coloca o seu material de trabalho.  Uma Bíblia, o microfone, o baldinho com água benta, etc.
Enquanto os noivos cumprimentavam os padrinhos do lado oposto, eu me posicionei no local onde o sacerdote costuma ficar no momento da cerimônia, já que ele havia cumprimentado os nubentes e se retirado do altar.
Minha intenção era fotografar o encontro dos noivos defronte o altar e o beijo que vinha em seguida.  Aquela cena sempre resultava em fotos muito bonitas.
Coloquei-me na ponta dos pés, por causa da altura da mesa e curvei o corpo para a frente para conseguir um melhor ângulo. Nesse momento, sem perceber, lacei a alça do baldinho de água benta, com o cabo de sincronismo do equipamento que usava.
Quando levantei a câmara até a altura dos olhos para fotografar, foi o momento que senti o peso do baldinho com a água e vi que o mesmo estava enroscado no cabo do flash.
O baldinho, ficou suspenso no ar, parecendo o bondinho do Pão de Açúcar.  Então, com bastante cuidado, fui abaixando a câmara com o objetivo de trazer o baldinho de volta à mesa.  Foi quando percebi que aos poucos e cabo ia se desconectando do plug da câmara.
Infelizmente, não deu tempo.  O baldinho despencou de uma altura de meio metro da base da mesa. Na queda, aconteceu o maior estrago. O baldinho estava cheio de água, com o bastão de metal dentro dele.  Depois de bater na pedra da mesa, rolou para o chão, não me dando tempo de fazer nada, pois estava com as duas mãos ocupadas: a direita segurando a máquina fotográfica e a esquerda segurando o flash.
No momento em que o baldinho bateu no piso da igreja, saiu rolando pela escadaria que dava acesso ao altar.  Existe nesta igreja, um desnível de mais ou menos uns cinco a sete degraus, que separa o publico do altar.
O barulho foi um escândalo, além de ter me molhado todo com a água que saiu do baldinho.
A garotada que estava sentada nas primeiras fileiras dos bancos da igreja fez a maior algazarra com a cena.
Minhas orelhas pegavam fogo e a cor da minha pele devia estar roxa de vergonha.
Mas, o casamento não parou e tive que concluir o meu trabalho.  Continuei fotografando, mesmo com a camisa meio molhada e, às vezes, dava um sorrisinho meio amarelo quando algum casal de padrinhos sorria pra mim...
Estava me esquecendo.  Perdi o lance do beijo dos noivos no fundo do altar.  Não consegui fotografar, infelizmente.
Depois de terminada a cerimônia do casamento, enquanto os noivos recebiam os cumprimentos dos convidados na porta da igreja, voltei ao altar, peguei o baldinho e levei até a sacristia para o padre abastecê-lo de novo.  Aproveitei aquele momento para pedir minhas desculpas pelo acidente. A zeladora da igreja da igreja precisou dar um “trato” no altar, para que o sacerdote tivesse condições de realizar o próximo casamento que aconteceria em seguida.
Aquele foi um dia que eu nunca mais esqueci. Ô, vexame!




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