Como vergonha pouca é bobagem na profissão de
repórter fotográfico, escute essa!
Para quem nunca trabalhou como fotógrafo de eventos
sociais, principalmente no tempo da fotografia analógica (imagens registradas
em negativos), cabe aqui uma explicação.
Normalmente, o equipamento básico do fotógrafo social
era composto de uma câmara fotográfica que utilizava filme no formato 120, que
permitia ampliações de grandes formatos, um bom flash eletrônico, abastecido
com uma bateria recarregável e o cabo de sincronismo. Esse cabo ligava o flash à câmara
fotográfica. Possibilitava o disparo do flash, ao mesmo tempo em que a câmara
abria o obturador para a captação de luz.
Em suma, o cabo de sincronismo fazia os dois equipamentos funcionarem ao
mesmo tempo. Flash e máquina.
Muito bem.
Aconteceu na Basílica Nossa Senhora Aparecida, em São José do Rio Preto,
essa passagem da minha vida profissional.
Novamente, uma reportagem de casamento, onde tudo corria normalmente até
o momento do acontecido.
Nessa igreja, no final da cerimônia, o padre parabenizava
os noivos que, em seguida, se beijavam.
Na sequência, os noivos partiam para os cumprimentos dos padrinhos que
estavam posicionados nas laterais do altar. De início, a noiva se dirigia para
o lado onde estavam os pais e padrinhos do noivo, ao mesmo tempo em que o noivo
fazia o inverso. Resumindo, os noivos começavam cumprimentando os pais e
padrinhos do parceiro.
Eles iniciavam a sessão de abraços e beijos, pelos
sogros, que estavam colocados na entrada do altar, seguindo em direção ao
fundo. Chegando bem em frente ao altar
eles se encontravam, beijavam-se e iniciavam os cumprimentos dos seus
respectivos padrinhos, do fundo para a entrada, terminando esses afagos com os
respectivos pais.
Meio confuso de se explicar, mas acho que deu pra
entender.
Na maioria das igrejas católicas, existe uma mesa bem
grande no altar, normalmente de mármore.
Nessa mesa, quase sempre coberta por uma linda toalha branca, às vezes
rendada, o padre coloca o seu material de trabalho. Uma Bíblia, o microfone, o baldinho com água
benta, etc.
Enquanto os noivos cumprimentavam os padrinhos do
lado oposto, eu me posicionei no local onde o sacerdote costuma ficar no
momento da cerimônia, já que ele havia cumprimentado os nubentes e se retirado
do altar.
Minha intenção era fotografar o encontro dos noivos
defronte o altar e o beijo que vinha em seguida. Aquela cena sempre resultava em fotos muito
bonitas.
Coloquei-me na ponta dos pés, por causa da altura da
mesa e curvei o corpo para a frente para conseguir um melhor ângulo. Nesse
momento, sem perceber, lacei a alça do baldinho de água benta, com o cabo de
sincronismo do equipamento que usava.
Quando levantei a câmara até a altura dos olhos para
fotografar, foi o momento que senti o peso do baldinho com a água e vi que o
mesmo estava enroscado no cabo do flash.
O baldinho, ficou suspenso no ar, parecendo o
bondinho do Pão de Açúcar. Então, com
bastante cuidado, fui abaixando a câmara com o objetivo de trazer o baldinho de
volta à mesa. Foi quando percebi que aos
poucos e cabo ia se desconectando do plug da câmara.
Infelizmente, não deu tempo. O baldinho despencou de uma altura de meio
metro da base da mesa. Na queda, aconteceu o maior estrago. O baldinho estava
cheio de água, com o bastão de metal dentro dele. Depois de bater na pedra da mesa, rolou para
o chão, não me dando tempo de fazer nada, pois estava com as duas mãos ocupadas:
a direita segurando a máquina fotográfica e a esquerda segurando o flash.
No momento em que o baldinho bateu no piso da igreja,
saiu rolando pela escadaria que dava acesso ao altar. Existe nesta igreja, um desnível de mais ou
menos uns cinco a sete degraus, que separa o publico do altar.
O barulho foi um escândalo, além de ter me molhado
todo com a água que saiu do baldinho.
A garotada que estava sentada nas primeiras fileiras
dos bancos da igreja fez a maior algazarra com a cena.
Minhas orelhas pegavam fogo e a cor da minha pele
devia estar roxa de vergonha.
Mas, o casamento não parou e tive que concluir o meu
trabalho. Continuei fotografando, mesmo
com a camisa meio molhada e, às vezes, dava um sorrisinho meio amarelo quando
algum casal de padrinhos sorria pra mim...
Estava
me esquecendo. Perdi o lance do beijo
dos noivos no fundo do altar. Não
consegui fotografar, infelizmente.
Depois de terminada a cerimônia do casamento,
enquanto os noivos recebiam os cumprimentos dos convidados na porta da igreja,
voltei ao altar, peguei o baldinho e levei até a sacristia para o padre
abastecê-lo de novo. Aproveitei aquele
momento para pedir minhas desculpas pelo acidente. A zeladora da igreja da igreja
precisou dar um “trato” no altar, para que o sacerdote tivesse condições de
realizar o próximo casamento que aconteceria em seguida.
Aquele foi um dia que eu nunca mais esqueci. Ô,
vexame!
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